Volante do Huracán sempre aparece olhando para o lado nas fotografias com a equipe, uma forma de homenagear irmão, que fazia isso nos registros de família

Jogador mais experiente do Huracán, adversário do Cruzeiro na estreia na Copa Libertadores, o volante argentino Israel Damonte, de 37 anos, é personagem de uma história que por muito tempo intrigou torcedores, imprensa argentina e até companheiros de equipe. Em todas as fotos tiradas com a equipe, Damonte sempre aparecia olhando para o lado, "para fora" das fotografias.

Com o passar do tempo, os argentinos perceberam que aquilo não era uma coincidência e começaram a levantar hipóteses: seria uma brincadeira de Damonte? Ou ele não gosta de aparecer em fotos? Seria uma forma de protesto? O mistério acabou quando o jogador decidiu revelar o motivo: tratava-se de uma homenagem.

O GloboEsporte.com foi até o Campo de Deportes Jorge Newbery, o centro de treinamento do Huracán, conhecido como "La Quemita", para falar com Israel Damonte, que ao saber do motivo da nossa visita, nos recebeu e foi bastante atencioso.

David, o irmão mais velho de Israel Damonte, era muito distraído quando adolescente. Nas fotos de família, geralmente não olhava para a câmera. Isso fazia com que a mãe deles ficasse muito brava. Os irmãos achavam engraçado, e isso acabou virando uma marca de David. Em 2009, uma fatalidade, um acidente automobilístico, acabou fazendo com que a "marca de David" se transformasse em uma homenagem por parte de Israel Damonte.

"Faz um tempo que ficou conhecida a minha história, nas fotos das partidas, da equipe, sempre saio olhando para o lado. Não por distração, mas por causa de um irmão, que faleceu há muitos anos, no Natal de 2009, em um acidente automobilístico. Morreu ele, a mulher e o bebê de oito meses."

- Sempre fui muito agradecido a ele, por tudo que fez por mim, era o meu irmão mais velho. Então, a cada partida era uma forma de lembra-lo e agradecê-lo - diz o jogador do Huracán, que lembra com carinho de quando o irmão começou a sair nas fotos olhando para o lado para "provocar" a mãe deles.

"Comecei a fazer nas fotos (olhar para o lado), porque quando ele (David) era criança, em algumas fotos de Natal, nas primeiras vezes saía distraído, olhando pelo lado. Minha mãe sempre ficava brava, porque ele nunca saia olhando para frente."

- Na época éramos três irmãos, depois viramos cinco. A partir daí, ele já começou a fazer de propósito por causa de minha mãe. E, em todas as fotos que temos dele, já grande também, saia olhando para o lado. Então, é uma forma de recordá-lo e agradecê-lo - contou Damonte, que repete o gesto em todos os jogos.

- Sim, em cada partida, é um costume que tenho. Vou para a foto e já faço assim (olha para o lado). É uma forma de recordá-lo e de trazer meu irmão para cada partida. Nunca tinha contado (a história), só alguns companheiros tinham me perguntado, porque não tinha nenhuma foto em que todos estavam olhando para frente. Assim, fui contando para meus companheiros, um jornalista prestou atenção, me perguntou. Eu contei e, a partir daí, começou a história.

Pedido do pai

Olhando para Damonte, chama a atenção o fato de o jogador usar o cabelo descolorido. Mas não é por moda ou vaidade. Foi uma forma encontrada por ele para que o pai, que tem dificuldades de enxergar, pudesse identificá-lo dentro de campo. Assim, há 15 anos, Damonte adotou o visual platinado.

- Eu jogava em uma equipe de Mendoza (San Martín), na segunda divisão da Argentina. Meu pai disse que não me via, que assistia aos jogos, mas sempre lembrava de um companheiro meu, que jogava com um cabelo platinado (descolorido). E meu pai não enxergava bem. Ele me dizia: tem que aparecer para eu te ver. Não sei se você joga bem, mas tem que aparecer para que eu te veja.

A partir daí, estou falando do ano de 2004, comecei a descolorir o cabelo para que meu pai me visse. Obviamente, chamo a atenção, e quando eu erro um passe ou jogo mal, só me xingam. É um pouco normal - brinca o jogador.

Respeito ao Cruzeiro

Sobre o adversário da estreia do Huracán, o Cruzeiro, Israel Damonte mostra respeito. Destaca a história de conquistas da Raposa, espera conseguir ajudar o Globo, como é conhecido o time argentino, a vencer em casa. E ressalta a alegria de poder enfrentar uma equipe brasileira.

- O Cruzeiro é uma equipe copeira, um grande do Brasil, que tem muita história. Nós, sobre as equipes do Brasil, temos muito respeito. Junto com Brasil, Argentina e Uruguai, são potências mundiais. Esperamos fazer uma grande partida, jogamos em casa. Começar bem a Copa Libertadores vai ser importante. É uma primeira partida e um início muito lindo, contra um time do Brasil.

Fonte - GE