Com dados ruins no 1º trimestre, analistas veem possível queda no PIB
Números da indústria, do comércio e dos serviços apontam fraqueza da atividade; se a previsão se confirmar, pode ser o primeiro recuo trimestral da economia desde 2016.
Dados fracos sobre o desempenho da indústria, do comércio e dos serviços nos primeiros três meses do ano apontam que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre pode vir negativo. Essa possibilidade de encolhimento da economia é prevista por alguns analistas, e é observada também pelo Banco Central.
Nesta terça-feira (14), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgou a ata de sua última reunião, em que avaliou que existe "probabilidade relevante" de que o PIB tenha registrado um "ligeiro" recuo no primeiro trimestre de 2019. Se isso se confirmar, pode ser a primeira vez que a economia 'encolhe' desde 2016.
Os dados oficiais sobre o desempenho do PIB serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) no próximo dia 30. Mas os resultados dos principais componentes do PIB já são conhecidos:
O setor de serviços teve queda nos três primeiros meses de 2019;
A indústria caiu em janeiro e teve leve alta em fevereiro, até registrar no mês seguinte o pior resultado em seis meses;
As vendas do varejo subiram no acumulado dos três meses, mas sem avanço expressivo.
Os analistas ouvidos pelo G1 atribuem o resultado fraco da economia no começo de 2019 a uma frustração das expectativas por reformas econômicas – o que atrasa decisões de investimentos por parte dos empresários e de consumo para os investidores.
“A gente teve um primeiro trimestre de muito ruído, e isso impacta na perspectiva da atividade econômica. A gente vê investidores segurando o freio de mão, segurando o que poderiam colocar na economia”, comenta o economista chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, que comenta ainda o efeito da frustração sobre o consumo.
“Se você vai comprar um carro, uma casa, ou até produtos eletrônicos ou de linha branca, são decisões de consumo nas quais você tem que pensar antes. E a perspectiva é que esse consumo vá ser adiado se você tem medo do desemprego.”
“O resultado de agora é pelo pecado do excesso de otimismo”, afirma Vieira.
O economista Roberto Luis Troster também comenta a frustração de expectativas em relação à velocidade das discussões sobre reformas econômicas. “O governo focou em problemas que não eram problemas, como mudar a embaixada de Israel para Jerusalém, enquanto a apresentação da proposta de reforma da Previdência demorou mais de um mês”, diz.
A economista chefe da Rosemberg Associados, Thaís Marzola Zara, também aponta os efeitos da frustração em relação às reformas, mas acrescenta à conta fatores conjunturais que também puxaram os resultados para baixo. “A gente teve a indústria caindo bastante, refletindo em parte a questão das exportações da Argentina, e em parte refletindo o impacto de Brumadinho”, exemplifica Zara.
A tragédia com uma barragem da Vale em Minas Gerais, em janeiro, teve forte impacto sobre a produção da mineradora e se refletiu no número das indústrias extrativas como um todo. O número mais recente do IBGE aponta para queda acumulada de 7,5%.
Por Karina Trevizan, G1
15/05/2019 06h00 Atualizado há 37 minutos