Para Guedes, cortar cargos dos outros é refresco. Já os do clã Bolsonaro...
O ministro Paulo Guedes é, ao lado de Sérgio Moro, do time de “inquestionáveis” na equipe do presidente Jair Bolsonaro. Pelo menos na visão de quem defende o governo. Mesmo incensado pelo amorfo “mercado”, Guedes não deveria ser uma unanimidade. A comparação do todo poderoso da Economia sobre funcionários públicos, citando-os como parasitas, é um exemplo disso. Ainda que a raciocínio não seja completamente absurdo, diante da grande maioria de servidores a fala foi ofensiva e desnecessária. Pena que o pedido de desculpas tenha esperado a repercussão negativa.
Durante a explicação, Guedes afirmou que, ao falar sobre esse “parasitismo” no serviço público, ele criticava a lógica de um Estado inchado, com mais despesas fixas do que receitas. É óbvio que esse Estado não será sustentável. Não dá para, a longo prazo, discordar do ministro da Economia. O problema é que o contexto não ajuda. Para o liberalismo defendido por Guedes, os funcionários públicos são descartáveis com a mesma velocidade que o Estado brasileiro deve se “livrar” de empresas, autarquias e diversas estruturas que compõem a máquina pública.
Para quem acha que funcionários públicos são desnecessários, é bom fazer uma reflexão sobre os inúmeros momentos em que os serviços da União, do Estado ou do Município foram importantes. Ou até mesmo quantas pessoas do seu círculo de convivência trabalham nas diversas esferas de poder e são pessoas comprometidas com o emprego. A estabilidade funcional, por exemplo, tão atacada pelos críticos, garante a memória em muitas repartições públicas. Algo que atualmente parece não ter tanto valor.
O problema dessa fala do ministro é que o pedido de desculpas não é sincero. Ano passado, o próprio Guedes foi obrigado a se retratar por defender, eventualmente, o uso de um ato institucional para fazer mudanças no Brasil, tal qual a Ditadura Militar fez no passado. Ou seja, por mais gênio que ele possa parecer para quem o defende, o ministro também se perde nas palavras ao divulgar o que pensa. Qualquer semelhança com Bolsonaro não é mera coincidência.
Funcionários públicos não são parasitas. Aqueles que se comportem como tal devem ser punidos e demitidos do serviço público. O país precisa até modernizar processos de desligamentos. Mas fazer generalizações como a proposta por Guedes só serve para ampliar a noção errada de que a máquina pública é infestada por desocupados e preguiçosos. Fica então uma sugestão: ministro, comece a fazer um pente fino nos cabides de emprego incentivados pelo clã presidencial e saia do discurso vazio. Ou ele esqueceu da investigação das rachadinhas de Flávio? Cortar cargos dos outros é refresco. Quero ver cortar na própria carne.
Por Fernando Duarte