O ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) relatou ao Ministério Público Federal que o senador Cidinho Santos (PR-MT) prometeu ajuda do ministro Blairo Maggi, do atual governador do estado, Pedro Taques (PSDB) e do também senador Wellington Fagundes (PR-MT) para não fazer delação premiada. O acordo acabou sendo feito e foi homologado pela Justiça.
Segundo Silval Barbosa, Cidinho fez a promessa numa visita ao ex-governador no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), onde o peemedebista passou quase dois anos preso por fraude na concessão de concessao de incentivos fiscais a empresas em troca de propina. O encontro ocorreu em 27 de abril.
Silval afirmou, na delação, ter dito a Cidinho que pensava em confessar os crimes e pagar fiança para sair da prisão. Em resposta, de acordo com Silval, Cidinho disse que Maggi, Fagundes e o "número 1 PTX" - se referindo a Pedro Taques - iriam ajudá-lo.
Esse grupo político, de acordo com Cidinho, já estaria naquele momento para fazer isso em conjunto com o empresário Valdir Piran. O grupo também estaria tentando anular, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), a Operação Ararath, que investiga crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no governo do estado. O G1 não conseguiu manter contato com a defesa de Piran até a publicação desta reportagem.
A gravação do encontro foi entregue à Procuradoria Geral da República (PGR).
Em nota, Cidinho – que assumiu a vaga no senado com a saída de Blairo Maggi para comandar o Ministério da Agricultura – confirmou ter visitado Silval na prisão porque ficou sabendo que ele estava com depressão e que não fez a visita para levar nenhum recado. "Não sou garoto de recado, não recebi orientação e não fui a mando de ninguém", declarou.
Maggi disse que nunca agiu ou autorizou a agirem de forma ilícita dentro do governo para obstruir a Justiça. Em nota, Taques afirmou que ainda não tem conhecimento sobre o teor da delação de Silval, que os dois são adversários políticos e que aguarda ter acesso à delação para se manifestar. Por meio de assessoria, o senador Wellington Fagundes nega que tenha participado de qualquer esquema ilícito.
Vídeos de dinheiro
Além dos depoimentos detalhando como funcionavam os esquemas de corrupção em seu governo, Silval Barbosa entregou provas materiais, entre elas vídeos. As imagens mostram o ex-chefe de gabinete dele, Sílvio Corrêa, entregando maços de dinheiro ao prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), ao deputado estadual José Domingos Fraga (PSD), ao deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), e aos ex-deputados estaduais, Luciane Bezerra (PSB), Alexandre Cesar (PT) e Hermínio Jota Barreto.
Emanuel Pinheiro alegou que não fez nada ilícito e que vai comprovar isso na Justiça. Já o deputado estadual Oscar Bezerra (PSB), marido de Luciane Bezerra, disse que ela recebeu dinheiro para quitar dívidas de campanha eleitoral. O advogado de Sílvio Corrêa disse que não pode comentar porque a delação está sob sigilo. José Domingos Fraga e Jota Barreto não foram localizados.
Acordo na chácara
Em outro trecho da delação, Silval revelou pagamento ao ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso, Éder Moraes, para que mudasse o depoimento a fim de inocentar Blairo Maggi, em 2014. Ficou acordado que, para isso, ele receberia R$ 6 milhões. "Blairo Maggi concordou em pagar R$ 3 milhões para que Eder se retrasse das declarações", afirmou. Ele disse ter pago o restante do valor.
Éder nega ter recebido qualquer valor para mudar o depoimento e que desconhece o conteúdo da delação de Silval Barbosa.
Fonte- G1