Partes já não se entendiam desde o ano passado, num cenário que inclui salários atrasados e desgaste interno. Torcida, antes aliada, passou a se dividir
O casamento entre Nenê e Vasco terminou de vez na sexta-feira. Mas, como um casal que há tempos não se entendiam, o desgaste entre as partes é antigo. Data do início de 2017, quando o meia pediu, pela segunda vez na época, para deixar o clube. Ao todo, foram quatro tentativas de sair - esta última, enfim, atendida, graças ao interesse do São Paulo.
Nenê chegou ao Vasco em agosto de 2015. A empatia foi imediata. Com grandes atuações, liderou uma reação cruz-maltina no Campeonato Brasileiro. O clube, antes lanterna, brigou contra o rebaixamento até a última rodada, mas não evitou a descida.
Valorizado, Nenê foi procurado por diversos clubes no início de 2016. Inclusive pelo rival Flamengo. Optou por continuar, mas a renovação não foi simples. Ele fez um pedido alto para o Vasco, e o presidente Eurico Miranda bancou, para a surpresa do jogador. De vínculo novo, o meia brilhou na conquista do Campeonato Carioca daquele ano, mas, a partir disso, caiu de rendimento.
Em 2017, Nenê quase saiu
A diretoria da época percebeu. Tanto que, se segurou o jogador em junho de 2016, quando ele manifestou vontade de sair, mostrou-se disposta a liberar o meia em janeiro de 2017 e, principalmente, julho de 2017, quando ele novamente solicitou deixar o Vasco.
No último episódio, o desgaste era grande. Nenê pediu para não viajar para enfrentar justamente o São Paulo e ficou afastado à espera de propostas. Nenhuma se concretizou, ele foi reintegrado e teve papel importante na classificação para a Libertadores.
Queda na popularidade
Ainda assim, Nenê não era mais unanimidade. Ainda com Milton Mendes no comando, chegou a ser barrado. Com Zé Ricardo, recuperou espaço, mas até a torcida, antes completamente rendida a seu futebol, passou a questioná-lo. Com lampejos de brilhantismo, o meia decidiu jogos, mas o desempenho nos 90 minutos não era de todo satisfatório.
Nenê com Zé Ricardo: técnico devolveu confiança ao jogador e o colocou como titular (Foto: Reprodução SporTV)
Internamente, Nenê também não era unanimidade. A grande queixa em relação ao jogador era de que ele gostava de ser o centro das atenções – por isso, ganhou o apelido de Mickey dos companheiros. A partir do momento em que perdia a camisa 10, era substituído ou barrado, ele mostrava descontentamento.
O relacionamento com Mateus Vital é um exemplo. O garoto, joia da base vascaína, chegou a usar a camisa 10 por um tempo, com Nenê vestindo a 11. Eles também trocaram de posição, com o jovem centralizado e o veterano na ponta.
Para muitos dentro do clube, Nenê tinha ciúme de Vital. Apontavam, inclusive, lances em que o craque não tocava a bola para o jovem.
Para finalizar, pessoas da antiga gestão acreditavam que Nenê tinha relações com Julio Brant, candidato da oposição. Ele teria sido um dos jogadores que se reuniram com o ex-jogador Felipe, uma das acusações feitas pelo então vice de futebol, Eurico Brandão, em coletiva.
Nenê lamenta falta de prestígio
Por outro lado, Nenê tinha suas razões para pensar em deixar o Vasco. Ele sai do clube com cinco meses de salários atrasados, segundo seu empresário, Gilvan Costa. Uma dívida de R$ 1,5 milhão, referente, principalmente, a direitos de imagem.
A grande queixa de Nenê é que ele nunca se sentiu valorizado pelo Vasco. O jogador acredita que segurou muita pressão pelo clube, mas não foi retribuído da mesma forma.
- Nenê vem jogando pelo respeito que ele tem com o Vasco. Está há cinco meses sem receber. Preciso saber qual é a realidade do clube – disse Gilvan Costa, empresário do jogador, no início das conversas com o São Paulo.
A conversa com Campello
A realidade do Vasco é complicada. Por isso, o interesse de São Paulo abriu a porta para a saída de Nenê. Apesar de tudo, a nova diretoria cruz-maltina, liderada pelo presidente Alexandre Campello, não queria se desfazer de uma referência técnica do elenco sem luta.
A estratégia foi colocar o peso da decisão em Nenê. Com todos os detalhes encaminhados, Campello, em coletiva, ainda negava a saída. Dizia que precisava conversar com o jogador para saber de sua vontade. O vice-presidente, Fred Lopes, deixou claro que não era interessante manter um atleta que queria sair. Era preciso que o meia assumisse a vontade de sair.
Com o pedido de Nenê, restou acertar as arestas financeiras. Uma reunião do jogador com Fred Lopes e Paulo Pelaipe encaminhou a saída. A dívida de R$ 1,5 milhão do clube será abatida: o Vasco pagar R$ 800 mil, pois tinha pendências com o São Paulo pelas negociações de Brenno e Wellington - esse valor será parcelado em 30 vezes; Nenê vai abrir mão do restante a que teria direito.
Fonte- GE