Reforço à Venezuela será enviado a partir de sábado, 23; decisão foi tomada após reunião entre presidente e ministros
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fechou nessa quinta-feira, 21, o espaço aéreo do país e enviou blindados à fronteira com o Brasil para impedir a entrada de ajuda humanitária. Em Brasília (DF), o presidente Jair Bolsonaro manteve o envio de ajuda. A decisão ocorreu dois dias após a oposição venezuelana iniciar uma operação de entrega de mantimentos enviados pelos EUA com o auxílio do Brasil e da Colômbia.
“Decidi que, no sul da Venezuela, fica fechada completamente a fronteira com o Brasil, até segunda ordem”, disse Maduro, após reunião com o alto comando militar em Caracas.
Sobre a Colômbia, o chavista afirmou avaliar uma medida similar. Para Maduro, o armazenamento de ajuda humanitária é uma “provocação barata”. “Responsabilizo o senhor Iván Duque [presidente colombiano] por qualquer violência na fronteira.”
Mesmo com o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, Bolsonaro decidiu manter a missão humanitária. O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rego Barros, informou: os produtos serão mantidos nas cidades de Boa Vista e de Pacaraima, em Roraima, até meios de transporte venezuelanos buscarem suprimentos.
“Estamos disponibilizando os meios para a operação e continuamos aguardando a vinda dos caminhões de transporte dirigidos por venezuelanos”, disse. Segundo Barros, os alimentos não são perecíveis e o prazo de validade dos medicamentos é longo, o que permite o armazenamento por um longo período.
A partir de sábado, 23, começa o envio de ajuda humanitária de Roraima para a Venezuela, afirmou María Teresa Belandria, representante de Guaidó no Brasil, na quinta-feira. “Foram definidos os procedimentos para realizar a operação, por meio da qual serão transportadas em uma primeira fase até 100 toneladas de ajuda, composta por alimentos, remédios e kits de emergência, que sairão da cidade de Boa Vista”, explicou María Teresa. O controle completo da operação será das autoridades brasileiras.
A decisão de manter a operação foi tomada em reunião entre Bolsonaro e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Governo) ainda na quinta. O chanceler Ernesto Araújo não participou. Segundo o governo, ele foi consultado por telefone.
A pedido de Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão irá a Bogotá para a reunião do Grupo de Lima, que ocorre segunda-feira, 25. O tema do encontro será a crise na Venezuela, que pode se agravar após a decisão de Nicolás Maduro de fechar as fronteiras.
“Maduro mandou fechar a fronteira para evitar que o pessoal da Venezuela venha ao Brasil buscar suprimento”, disse Mourão. O vice-presidente garantiu: “em hipótese alguma”, o Brasil entrará na Venezuela para qualquer finalidade. “Isso não existe”, avisou.
De acordo com Mourão, “não há situação tensa”. “Está da mesma forma que antes. Nada mudou. Vamos aguardar o que vai acontecer amanhã”, comentou, em referência à decisão de Guaidó de forçar a entrada de ajuda humanitária no sábado, 23. Segundo o líder da oposição venezuelana, as doações chegarão por Cúcuta, na Colômbia, e Roraima, no Brasil. No entanto, com a fronteira fechada, isso pode não acontecer.
O aumento da tensão com o fechamento da fronteira ocorre no momento em que o alto comando do Exército se reúne em Brasília (DF), desde a segunda-feira, 18, em uma agenda previamente marcada para definir as promoções de março. Nos encontros são feitas avaliações de conjunturas nacional e internacional.
Durante as reuniões, os militares brasileiros descartaram qualquer chance de confronto e demonstraram preocupação com a quantidade de alimentos levada para Roraima e poderá se perder devido ao fechamento da fronteira.
As Forças Armadas e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ainda têm adidos em Caracas e mantêm o governo brasileiro informado. “A situação é de observação. Apenas isso”, afirmou um general, em condição de anonimato, já que a questão tem sido conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores em conjunto com o Planalto.
Chanceler
Em viagem a Bogotá, Mourão será acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo. O vice-presidente negou que sua ida à Colômbia represente o isolamento de Araújo. “De jeito nenhum. Ele vai comigo, só que a reunião é de presidentes e, por isso, o presidente Bolsonaro pediu para eu representá-lo”, declarou Mourão.
Durante a reunião do Grupo de Lima, na próxima segunda-feira, 25, na Colômbia, estarão representantes dos 14 países do Grupo de Lima. Entre os integrantes, apenas o México não reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Fonte- Band