Niki Lauda e o elo com os três brasileiros que conquistaram títulos mundiais na Fórmula 1
Austríaco disputou dois campeonatos com Emerson Fittipaldi, foi companheiro de equipe e grande amigo de Nelson Piquet e teve entrevero que depois virou amizade com Ayrton Senna
Morto na última segunda-feira aos 70 anos, Niki Lauda foi o elo entre os três brasileiros campeões mundiais de Fórmula 1. Em algum momento de sua gloriosa carreira, o austríaco tricampeão (1975, 1977 e 1984) disputou posições importantes na pista com Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. E com os três manteve uma relação muito respeitosa.
Com Emerson, Niki brigou diretamente pelos campeonatos mundiais de 1974 e 1975. No primeiro, Lauda fazia sua primeira temporada pela Ferrari. Ganhou duas corridas e chegou a liderar a tabela. Na Bélgica, os dois tiveram uma batalha muito apertada vencida pelo brasileiro.
No fim, a inexperiência pesou para Lauda, que cometeu erros importantes na Alemanha e Canadá e saiu da briga. A McLaren não tinha o carro mais rápido, mas Emerson faturou o bicampeonato ao derrotar na decisão o companheiro de Lauda, o suíço Clay Regazzoni.
Em 1975, Emerson largou bem no campeonato, mas, com o novo modelo 312T da Ferrari, Lauda arrancou para o título. Curiosamente, na corrida em que se sagrou campeão, em Monza, os dois tiveram dura disputa pelo segundo lugar na prova, e Emerson passou pelo austríaco, impedindo uma dobradinha da Ferrari em casa - a vitória foi de Regazzoni.
Emerson e Lauda tiveram sempre excelente relacionamento. Tanto que, em 1976, quando o austríaco ficou entre a vida e a morte após acidente em Nürburgring, Fittipaldi foi chamado pelo então chefe da Ferrari, Daniele Audetto, para substituir Niki. O brasileiro recusou prontamente o convite feito num momento inoportuno.
Em 2014, 40 anos após a disputa do título de 1974, Emerson e Lauda tiveram um de seus últimos encontros, e falaram com Reginaldo Leme sobre aquela disputa, em reportagem exibida pelo Esporte Espetacular:
- Naquele ano venci minha primeira corrida, em Jarama, e depois cometi alguns erros. Cometi dois ou três erros, e no fim o Emerson foi campeão mundial. Eu era muito inexperiente para brigar com Emerson e Regazzoni.
Se com Emerson Fittipaldi a camaradagem foi grande, com Nelson Piquet a empatia foi ainda maior. Os dois se conheceram no fim de 1978, quando o brasileiro se juntou à equipe Brabham. Cheio de vontade de se inteirar sobre o carro, Nelson observou cada passo de Lauda. Antes da F1, Piquet era seu próprio mecânico. Na principal categoria do automobilismo, o brasileiro teve de aprender como interagir com os engenheiros. Aprendeu, e aprendeu rapidamente.
Ainda naquele ano, o jovem Piquet começou a superar constantemente o bicampeão Lauda. É bem verdade que o austríaco já estava desmotivado e focado no desejo de operar uma companhia aérea. Abruptamente, o austríaco abandonou a F1 durante o treino para o GP do Canadá. O brasileiro herdou a condição de número 1 da Brabham, e partiu para uma brilhante trajetória.
- Tudo que eu aprendi foi com o Lauda - sempre disse Piquet.
Niki voltou à F1 em 1982 e, dois anos depois, conquistou o tricampeonato num ano dominado pela dominante McLaren. Campeão em 1983 com a Brabham, Piquet tinha um carro veloz, mas menos confiável e consistente do que o de Lauda. Curiosamente, os dois brigaram palmo a palmo pela vitória na Áustria. Com pneus em melhores condições, Niki passou por Nelson e abriu vantagem para conquistar sua única vitória em casa na carreira.
Por Fred Sabino
Os dois mantiveram uma estreita amizade ao longo dos anos. Em 2014, já como presidente não executivo da Mercedes, Lauda convidou Piquet para assistir ao GP do Brasil ao seu lado nos boxes da equipe. Em dado momento, Nico Rosberg e Lewis Hamilton brigavam pela vitória, quando, de repente, ao ser filmado pela transmissão de TV, Nelson agarrou o amigo e tentou lhe dar um beijo. Todo mundo caiu na gargalhada, e a cena correu o mundo.
Ayrton Senna era um grande fã de Niki Lauda. Quando chegou à Fórmula 1, em 1984, o brasileiro disse nas inúmeras entrevistas que fez que admirava o profissionalismo do austríaco. Com o modesto carro da Toleman, Ayrton se apresentou a Lauda com uma ultrapassagem memorável sobre a estrela da McLaren durante o chuvoso GP de Mônaco.
Na Inglaterra e em Portugal, Niki venceu com o brasileiro em terceiro lugar. Nos dois pódios, Senna festejou bastante com Lauda, que no Estoril, ao comemorar o tricampeonato, ofereceu sua garrafa de champanhe para o brasileiro beber uns goles.
21/05/2019 11h50 Atualizado há 2 horas