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Site diz que Moro e Dallagnol conversaram sobre apoio de Fux à Lava-Jato
13/06/2019 08:58 em Política

Site diz que Moro e Dallagnol conversaram sobre apoio de Fux à Lava-Jato

Diálogo revelado por editor executivo do site 'The Intercept' mostra o então juiz federal e o procurador conversando sobre ministro do Supremo; 'In Fux we trust', teria dito o magistrado

 

RIO — Nova sequência de mensagens divulgada pelo site "The Intercept Brasil", que teriam sido trocadas entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava-Jato, mostram o que seria uma conversa sobre o apoio do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), à Operação Lava-Jato.

 

 

Os textos foram divulgados em entrevista à Rádio BandNews por um editor executivo, que no domingo já havia revelado outras mensagens em que Moro e Dallagnol tratavam sobre as atuações nos bastidores da Lava-Jato. A Polícia Federal (PF) investiga invasões aos celulares dos dois e de outras autoridades com atuação direta ou indireta à operação.

 

As novas mensagens teriam sido trocadas em 22 de abril de 2016. Às 13h04 daquele dia, Dallagnol teria enviado ao magistrado: "Caros, conversei com o FUX mais uma vez, hoje".

 

No mesmo minuto, o procurador teria prosseguido: "Reservado, é claro: o Min Fux disse quase espontaneamente que Teori (Zavascki, que morreu em 2017) fez queda de braço com o Moro e viu que se queimou, e que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele, rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições (...). "Em especial no novo governo", conclui Deltan em outro trecho da mensagem, numa possível referência à gestão de Michel Temer (PMDB), que duas semanas após a data do diálogo assumiria a presidência no lugar de Dilma Rousseff, àquela altura alvo de um processo de impeachment no Congresso.

 

O diálogo divulgado pelo editor do "Intercept" prossegue com uma resposta em inglês, que teria sido enviada por Moro: "In Fux we trust". O lema nacional dos Estados Unidos ("In God we trust") era utilizado à época por admiradores do magistrado de Curitiba ("In Moro we trust").

 

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, na BandNews, Leandro Demori, do "The Intercept", afirmou que o trecho é verídico e faz parte do material que o site obteve com uma fonte não revelada. Ele afirmou que resolveu levar as mensagens ao conhecimento do público da rádio após a repercussão do material divulgado no domingo.

 

OUTRO LADO

O GLOBO procurou o ministro Luiz Fux para que ele pudesse comentar o teor do diálogo revelado pelo editor do "Intercept". O magistrado não quis se manifestar. No domingo, após a divulgação das primeiras mensagens, Moro lamentou "a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores". Ele também negou que tivesse orientado Dallagnol sobre a Lava-Jato e afirmou que não poderia confirmar se as mensagens eram verdadeiras. Nesta quarta-feira, mais cedo, ele disse que "hackers de juízes não vão interferir na missão".

 

'Queda de braço'

Em 22 de março de 2016, o ministro Teori Zavascki, então relator da Lava-Jato no Supremo, determinou que Moro enviasse à Corte todas as investigações que envolviam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão veio após o juiz ter levantado o sigilo do áudio em que os petistas conversavam sobre a nomeação de Lula para a Casa Civil . A gravação era fruto de interceptação telefônica feita no âmbito da Lava-Jato e, na opinião de Zavascki, a suspensão do sigilo aconteceu sem a cautela exigida. O ministro determinou que a divulgação fosse interrompida e pediu para que Moro se explicasse no prazo de 10 dias.

 

Em resposta à decisão de Zavascki, em 29 de março daquele ano, Moro enviou um documento em que pediu desculpas três vezes pela polêmica que provocou ao divulgar diálogos de Lula gravados pela Polícia Federal . Por outro lado, aproveitou a oportunidade para dizer também que vários dos telefonemas interceptados mostravam tentativas de Lula em obstruir as investigações contra ele no âmbito da Lava-Jato.

 

Em votação no plenário, a liminar de Zavascki que mantinha o caso de Lula no Supremo permaneceu com a Corte, por oito votos a dois. Os ministros Luiz Fux e Marco Aurélio Mello votaram contra o relatório que mantinha o processo longe da Justiça Federal em Curitiba, onde trabalhava Moro.

 

Três meses depois, no dia 13 de junho, Teori devolveu a Moro as investigações sobre Lula que estavam no STF. Na mesma decisão, o ministro anulou parte das escutas telefônicas com conversas do ex-presidente depois do período autorizado por Moro, como o diálogo entre Lula e Dilma em que ela dizia que estava enviando, por um emissário, o termo de posse para que o petista fosse nomeado para a Casa Civil.

 

Moro avisou que processo de Lula continuaria com Lava-Jato

Mais tarde, o "The Intercept" divulgou uma versão ampliada de mensagens atribuídas a Moro e ao chefe da força-tarefa da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol. Em um dos trechos inéditos, Moro, então juiz da 13ª Vara Federal Criminal, teria avisado a Deltan que o processo envolvendo o caso do tríplex, que levou à prisão do ex-presidente Lula, deveria continuar com Curitiba.

 

Moro ficou com o caso, após a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal da Justiça Estadual de São Paulo, ter declinado sua competência, no dia anterior (14 de março de 2016). De acordo com as mensagens divulgadas, Moro teria avisado a Deltan que isso ocorreria em texto encaminhado às 20h50 do dia 13 de março por meio do aplicativo Telegram. A mensagem ressaltava que a informação não poderia vazar.

 

"Nobre, isso não pode vazar, mas é bastante provável que a ação penal de SP seja declinada para cá se o LL (Lula) não virar Ministro antes", diz o texto atribuído a Moro.

 

Deltan agradece a informação e minutos depois parabeniza Moro pelo apoio popular que o juiz recebeu em manifestações realizadas naquele 13 de março, que tinham o impeachment de Dilma Rousseff como mote.

 

Dois dias depois da decisão da juíza, no dia 16 de março, Dilma anunciou a nomeação do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil. De acordo com as mensagens divulgadas pelo The Intercept, às 12h44 deste dia o procurador Deltan questiona Moro se ele mantinha a decisão de retirar o sigilo de um grampo telefônico feito no aparelho do ex-presidente. Quatorze minutos depois Moro questiona qual a posição do MPF. Deltan demora duas horas e meia e responde com "abrir". Questiona Moro uma hora depois se ele confirmava que divulgaria a conversa. Às 17h11, Moro respondeu que já decidiu pela abertura.

 

"Já abri. Mas sigilo ainda está anotado a pedido carlos/PGR", diz a mensagem.

 

No lote de áudios divulgado, o que gerou uma crise política foi um no qual Dilma e Lula falam sobre um termo de posse. Essa conversa ocorreu às 13h32 do mesmo dia 16 de março. A divulgação se tornou ainda mais polêmica porque essa conversa específica aconteceu depois que Moro já tinha dado uma decisão suspendendo a interceptação no telefone do ex-presidente.

 

De acordo com as mensagens, no dia 22 de março Moro e Deltan voltam a falar sobre a divulgação dos áudios. O procurador diz ao juiz que a liberação foi "um ato de defesa". Moro diz não se arrepender da decisão, mas afirma que a reação está "ruim".

 

Questionada sobre a divulgação das novas mensagens, a assessoria do Ministério da Justiça reiterou que "são supostas mensagens adquiridas de forma ilegal e criminosa, sob investigação da Polícia Federal". Perguntado na saída do jogo entre CSA e Flamengo se iria comentar o tema, Moro respondeu com um sinal de negativo.

 

Reunião com MP e PF

Nas novas mensagens divulgadas, há também a combinação de uma reunião entre o então juiz Moro e representantes do Ministério Público e da Polícia Federal para discutir novas fases da Lava-Jato. A sugestão da reunião foi feita por Deltan em mensagem enviada às 23h53 do dia 16 de outubro de 2015. Ele propõe o encontro no dia 19, uma segunda-feira.

 

"Caro Juiz, seria possível reunião no final da segunda para tratarmos de novas fases, inclusive capacidade operacional e data considerando recesso? Incluiria PF também", diz a mensagem atribuída ao procurador.

 

Moro responde no dia seguinte, concordando com a ideia, mas sugerindo outra data: "Penso que seria oportuno. Mas segunda sera um dia difícil. Terça seria ideal".

 

Os dois continuam combinando a melhor data e horário, até decidirem que o encontro será numa terça-feira, dia 20, às 10h30. Ao confirmar a reunião no dia 19, Moro avisa ter decretado novas prisões de executivos da Odebrecht. Um dos alvos era Marcelo Odebrecht, que viria a se transformar em um dos principais delatores da Lava-Jato.

 

O ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador federal Deltan Dallagnol negaram que houve irregularidades na troca de mensagens entre eles durante as investigações da operação Lava-Jato – 24/10/2017 Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

 

 

 

 

 

O Globo

12/06/2019 - 22:06 / Atualizado em 13/06/2019 - 08:37

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