Desfile de Dois de Julho termina apressado e politicamente vazio - e isso não é ruim
A ausência do governador Rui Costa na comemoração da Independência da Bahia não passou despercebida, principalmente pela oposição e pelas justificativas esfarrapadas de aliados. No entanto, o que mais chamou atenção não foi o fato dele não estar presente. Foi o esvaziamento de uma das festas mais tradicionais do calendário eleitoral baiano – e não apenas pela “falta” do governador. O Dois de Julho, que em 2018 sofrera com um jogo da Seleção Brasileira próximo às 11h, esse ano foi vítima de uma série de fatores, que deixou o brilho político da festa mais fraco – devolvendo mais civismo à memória da data.
A preferência de Rui em estar na Espanha, ao invés de estar no desfile cívico, foi um desacerto. É muito simbólica a presença do governador na celebração aos heróis baianos da pátria e, ao se ausentar um ano após ser reeleito, o petista deixa uma mensagem de certo menosprezo pela história e pela cultura local, ainda que não tenha sido a intenção. Não acredito que o governador tenha preterido participar do Dois de Julho, porém abriu margem para especulações e críticas que poderiam ser evitadas com maior cuidado com a agenda. Para a sorte dele, não há memória que perdure e os impactos desse “deslize” não serão sentidos a longo prazo.
Houve até um esforço para minimizar a ausência do governador. O senador Jaques Wagner, por exemplo, acabou participando da festa após a repercussão negativa da viagem de Rui. Porém, por mais que o ex-governador reforce a questão histórica da data, o espectro político da festa não pode ser esquecido. E João Leão, governador em exercício, passou ao largo de ocupar o vácuo deixado pela não ida de Rui ao desfile.
Para quem imaginaria que ACM Neto seria a grande estrela da festa, não chegou a haver todo esse destaque. O prefeito acabou sendo muito questionado sobre a tensão existente entre o secretário de Trabalho, Esporte e Lazer (Semtel), Alberto Pimentel, e vereadores da base aliada. Saiu pela tangente e evitou polêmica, guardando as provocações para a ausência de Rui. Ao lado dele, mas mantendo certa distância, o vice-prefeito Bruno Reis tentou testar a popularidade. Como a eleição de 2020 está longe, não dá para medir tanto resultado.
Já o presidente da Câmara de Vereadores, Geraldo Jr., tentou levar um “bloco” na rua. Reuniu uma claque expressiva e uma parte de vereadores descontentes no relacionamento com a prefeitura para tentar se capitalizar eleitoralmente. A estratégia pode não ter sido a melhor, mas não passou despercebida. Porém não só de declarações de apoio se vale uma eleição e não necessariamente Geraldinho sai fortalecido do Dois de Julho.
Com dois anos consecutivos de desfile da independência enfraquecido politicamente, resta a expectativa de que, em 2020, o ato volte a ganhar vigor na classe – mesmo porque, além de ser um termômetro, as ruas do centro antigo são apertadas o suficiente para que aplausos e vaias não passem despercebidos. O jeito é esperar um pouco mais. Ao tempo em que reforçamos que a história e a cultura baiana são bem maiores do que esses personagens que desfilam em busca de cacife político.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (3) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
por Fernando Duarte