'Não acho que a gente deva interferir na eleição de outro país', diz Maia sobre eventual derrota de Macri
O presidente da Câmara também se disse contra proposta de alas do governo de o Brasil deixar o Mercosul, caso o presidente Macri seja derrotado
SÃO PAULO — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia , disse na noite da desta segunda-feira que a relação entre Brasil e Argentina deve ser independente dos governos de turno. Maia discordou da posição do governo do presidente Jair Bolsonaro sobre aderrota do presidente Mauricio Macri, seu aliado, nas primárias de domingo realizadas na Argentina. Ao saber do resultado, a gestão Bolsonaro passou a estudar a possibilidade de rever a participação no Mercosul diante de uma eventual vitória do presidente Alberto Fernández, que tem a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice.
Mais cedo, o presidente disse que não quer " irmãos argentinos fugindo para cá " numa hipótese de vitória do que ele chama de "esquerdalha". Maia saiu em defesa do Mercosul e defendeu cautela nas declarações do presidente brasileiro sobre o país vizinho.
— A gente deveria primeiro aguardar o resultado do processo eleitoral para depois tomar qualquer tipo de atitude — afirmou Maia, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. — Isso é importante para não ficar parecendo tentativa de interferência. Não sei se essa tentativa é real ou não. Mas sendo, acho que talvez dê voto e até consolide voto para a chapa da ex-presidente Kirchner. Creio que ninguém goste de ver interferência de um país no outro.
Maia enfatizou que eventual mudança do governo argentino não deve ser determinante para que o Brasil cogite romper o acordo com o Mercosul. Para ele, o acordo de livre comércio fechado entre o Mercosul e a União Européia serviu para reafirmar a importância do bloco.
— Se é o presidente A, ou o presidente B, isso não deve ser motivo para a nossa decisão. Não é porque o presidente Macri pode ou não perder a eleição que essa importância do Mercosul vai acabar - disse o presidente da Câmara. - O Mercosul é maior que os governos. Acho que a gente tem que acreditar que o bloco é relevante para o desenvolvimento da região — concluiu.
As primárias de domingo na Argentina funcionaram como uma megapesquisa das eleições presidenciais de 27 de outubro. Como não havia disputa interna nos partidos, o importante era saber qual a proporção de eleitores votaria em cada chapa. Com 99,37% das urnas apuradas, Alberto Fernández , que tem a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice, teve 47,66% dos votos. Macri , candidato à reeleição e que tem o apoio declarado de Bolsonaro, recebeu 32,08% dos votos, uma diferença de menos 15 pontos percentuais. Na Argentina, para vencer no primeiro turno é necessário ter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de ao menos 10 pontos sobre o segundo colocado.
O Globo
13/08/2019 - 01:08 / Atualizado em 13/08/2019 - 08:50