Pressionado, Sergio Moro não tomará iniciativa de pedir demissão
Pessoas próximas a Moro dizem que Bolsonaro terá de assumir o desgaste de descartar seu auxiliar de maior popularidade
Sergio Moro , deve aguentar calado derrotas e desautorizações públicas a que vem sendo submetido pelo presidente Jair Bolsonaro . O chefe do Executivo terá que assumir o desgaste de demitir o ministro mais popular da Esplanada se quiser ver Moro fora do governo e, claro, explicar os motivos da demissão. Quem diz isso são pessoas que convivem com o ministro.
Na quinta-feira, mesmo depois das declarações de Bolsonaro sobre a possibilidade de trocar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, Moro manteve a agenda sem qualquer alteração. Participou de duas solenidades e várias reuniões com auxiliares e com parlamentares. Reservado, o ministro não explicitou críticas ou queixas.
Interlocutores de Moro consideram que as declarações de Bolsonaro têm sido excessivas, sobretudo sobre mudanças na PF. Para eles, o presidente estaria interessado em “desidratar” o ministro para que não faça sombra sobre ele. Bolsonaro estaria de olho em 2022 e não quer, segundo esses interlocutores, nenhum concorrente forte por perto.
Desidratação do pacote
Desde que foi enviado por Moro à Câmara dos Deputados, o pacote anticrime vem sendo desidratado pelos deputados. Já de início, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, determinou que o projeto tramitasse junto de uma proposta do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O grupo de trabalho sobre o tema já fez mudanças na proposta do ministro.
Tão reservado quanto Moro, o diretor da PF também decidiu se manter em silêncio. Depois da nota da semana passada na qual desmente Bolsonaro sobre as razões da troca do superintendente no Rio , Ricardo Saadi, Valeixo e os demais diretores resolveram aguardar os movimentos do presidente sem fazer novas manifestações públicas. Na nota, Valeixo disse que Saadi deixaria o cargo por vontade própria. Na quinta-feira passada, Bolsonaro afirmou que o delegado sairia por problemas de “gestão” e “desempenho”.
As declarações de Bolsonaro sobre Saadi foram as primeiras manifestações públicas de um presidente da República sobre um cargo de segundo escalão da Polícia Federal.
A praxe
Em geral, políticos, sobretudo governadores, tentam influenciar na indicação de superintendentes. Mas isso é feito, em geral, de forma indireta. E a cúpula da polícia evita indicar para as superintendências delegados sem bom trânsito com administradores locais, especialmente governadores.
Ao anunciar a saída de Saadi e mencionar um outro nome para o cargo, diferente do escolhido pelo diretor-geral, Bolsonaro interferiu na administração interna da polícia. Valeixo e os demais diretores teriam se sentido atropelados pela imposição do presidente. Da mesma forma, Bolsonaro teria se sentido afrontado pela nota em que a PF informa sobre os motivos da troca de comando no Rio e indica o nome do sucessor de Saadi, diferente do que o presidente anunciara.
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Jailton de Carvalho
23/08/2019 - 04:30 / Atualizado em 23/08/2019 - 08:17