Condenação de Geddel e Lúcio parece ser o começo do fim para clã Vieira Lima
Se a prisão de Geddel Vieira Lima e a derrota do irmão dele, Lúcio, na tentativa de reeleição à Câmara dos Deputados pareciam um prenúncio de que o clã estaria perto de encerrar sua participação no teatro político, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) parece ter sido ainda mais incisiva. Por unanimidade, os ministros condenaram os irmãos por lavagem de dinheiro e, por maioria, pelo crime de associação criminosa. A pena de Geddel é de mais de 14 anos e no caso de Lúcio de pouco mais que 10 anos – essas detenções devem ser aceleradas pelo processo ter tramitado diretamente na Suprema Corte.
Filhos de uma tradicional família política, cujo pai, Afrísio Vieira Lima, sobreviveu ao processo de redemocratização, Geddel e Lúcio tiveram estreias distintas na cena baiana. Enquanto o mais velho foi eleito na década de 1990 para a Câmara dos Deputados, o caçula debutou apenas em 2010, durante a campanha de Geddel para o governo da Bahia. Lúcio herdou o espólio do irmão, que já tinha sido herdeiro de Afrísio. Ao final, os cargos eletivos de ambos foram limitados ao parlamento federal.
Conta-se que o início da carreira de Geddel foi conturbado. À época da CPI dos Anões do Orçamento, o então jovem deputado chorou para evitar ser atrelado ao grupo. Desde então, o emedebista foi se consolidando como uma das principais lideranças baianas e com trânsito livre com a cúpula do MDB. Tanto que ele conseguiu ser ministro de Luiz Inácio Lula da Silva, indicado pelo partido, manteve um cargo na Caixa quando Dilma Rousseff esteve no Planalto, e voltou à Esplanada com Michel Temer. Até o escândalo do La Vue. Ali começou um novo capítulo da história.
Todo poderoso na Bahia, controlador de um dos maiores partidos do Brasil, Geddel foi do apogeu ao inferno em um curto espaço de tempo – pouco mais de 10 meses, para ser mais preciso. Influente na coxia de Temer, despencou do poder quando o então ministro Marcelo Calero trouxe a público uma denúncia de tráfico de influência. Dali até ser preso, o mais velho dos Vieira Lima tentou submergir. Impossível. Terminou preso em julho de 2017, quando ficou pouco tempo atrás das grades, e em setembro do mesmo ano, desde quando amarga o sol nascendo quadrado.
Já Lúcio manteve-se ativo até encerrar o mandato. A grande chance de manter a prerrogativa de foro e certo distanciamento de fazer companhia ao irmão não logrou êxito nas urnas no último pleito. Depois, tomou um chá de sumiço. Era o lógico, visto que, segundo o próprio argumento, a vida de empresário lhe concedia conforto. Por causa desse mesmo mandato que poderia tê-lo dado uma sobrevida, o julgamento da dupla fraterna permaneceu no STF. Agora, não há muito o que fazer, além de lidar com a pena pelo caso da emblemática foto das malas e caixas com R$ 51 milhões.
Como é difícil pôr fim definitivo a uma dinastia com tanta influência histórica na Bahia, o sobrenome Vieira Lima não necessariamente ficará preso ao passado. Como aconteceu no passado, a memória curta pode permitir que algum herdeiro aproveite o espólio de algumas décadas de poder. Porém é inegável que o STF parece ter determinado o começo do fim.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (23) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.
por Fernando Duarte