Bolsonaro adota tom pragmático sobre Argentina e Bolívia
O presidente Jair Bolsonaro adotou um tom mais conciliatório e voltado para os interesses comerciais brasileiros ao comentar a situação política na Argentina e no Chile, em entrevista após seminário de negócios nos Emirados Unidos, na manhã deste domingo (27).
Em relação à Argentina, que pode eleger hoje o opositor de esquerda Alberto Férnandez, Bolsonaro afirmou que pretende "ampliar qualquer comércio com a Argentina", e que espera que, se eleito, Férnandez não se oponha à abertura comercial pregada pelo Brasil .
Os planos da equipe econômica, no entanto, enfrentam oposição mesmo dentro do país. Segundo a CNI (confederação industrial), isso afetaria os negócios com o segundo maior mercado para bens manufaturados brasileiros.
Na passagem pelo Japão, há uma semana, Bolsonaro aventou a possibilidade de a Argentina ser suspensa do bloco caso mantivesse a oposição aos planos brasileiros.
Fernández, candidato escolhido pela senadora e ex-presidente Cristina Kirchner para liderar a chapa presidencial, enfrenta o atual presidente Mauricio Macri.
Nas eleições primárias, em agosto, ficou 15 pontos à frente do atual presidente. Na Argentina, para se eleger presidente, o candidato precisa obter no primeiro turno 45% dos votos ou índice superior a 40%, desde que a distância para o segundo colocado seja de ao menos dez pontos percentuais.
Todas as pesquisas apontam o opositor como vencedor já nessa rodada, com distâncias que vão de 13 a 20 pontos percentuais.
O candidato argentino, que havia chamado Bolsonaro de "racista, misógino e violento", passou depois a adotar tom mais moderado e a dizer que não falaria mais sobre o brasileiro nem responderia a provocações.
Depois de evitar comentar as eleições bolivianas no sábado, o presidente Brasileiro disse no domingo que quer que a Bolívia "permaneça um país amigo nosso".
"Temos muitos negócios com ele, muito em especial na questão do gás. Mas não abrimos mão da questão democrática", disse o presidente.
No sábado, Evo Morales desafiou seus oponentes e a comunidade internacional a provar uma suposta fraude na eleição que lhe deu seu quarto mandato consecutivo.
Diversas nações, entre as quais os Estados Unidos e o Brasil, questionaram o resultado e solicitaram a realização de um novo pleito para esclarecer dúvidas sobre a contagem de votos, que foi marcada por muitas idas e vindas.
Em postagem em rede social, o Itamaraty afirmou que não reconhece a vitória "neste momento".
A missão de observação eleitoral da OEA (Organização dos Estados Americanos) também recomendou outro pleito entre Evo e Mesa como a "melhor opção" para resolver o imbróglio.
Bolsonaro afirmou que o país apoia a decisão da OEA de pedir recontagem de votos.
Em relação aos protestos no Chile, que começaram após um aumento na tarifa de transporte público, Bolsonaro afirmou apenas que mantém boas relações com o presidente Sebastián Piñera e que espera "que tudo seja resolvido".
"Mas o que aconteceu num primeiro momento, com depredação do patrimônio público, isso assusta a todos nós", disse o presidente.
Na segunda (21), Bolsonaro havia atribuído à esquerda sul-americana a escalada da crise política no Chile.
por Ana Estela de Sousa Pinto | Folhapress