Virada de jogo? Bolsonaro ataca e Rui defende PMs no duelo de versões em morte de miliciano
Mais que uma troca de farpas, há um embate ideológico entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador Rui Costa. E, por mais estranho que possa parecer, eles estão em lados diferentes do jogo político tradicional. Bolsonaro ataca, sem qualquer embasamento a não ser teorias de conspiração, a ação da polícia baiana na operação que matou o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega. Rui defende a ação dos PMs locais e joga para a família Bolsonaro o interesse em ver Adriano morto.
É difícil conseguir traduzir essa situação tão sui generes em palavras. O presidente da República voltou a tratar o miliciano como um herói, deslocado ao passado, e vítima de "execução sumária". Algo que é radicalmente oposto ao que ele prega, de que "bandido bom é bandido morto". Para justificar a amizade com Adriano, Flávio Bolsonaro evocou que a homenagem foi há 15 anos. Época em que o miliciano cumpria pena temporária pelo assassinato de um flanelinha - acusação pela qual foi inocentado depois. Tudo com o endosso do pai.
Por mais que o clã presidencial insista em negar, há questões não esclarecidas sobre as relações deles com as milícias cariocas. Muitas respostas que poderiam ser obtidas a partir de Adriano Magalhães da Nóbrega e que foram com ele ao túmulo. Se o miliciano era inocente, por que não se apresentar à Polícia Federal e obter proteção à testemunha? Dificilmente Sérgio Moro o negaria, já que, pela versão da primeira família, Adriano iria mostrar que a imprensa insiste em associá-los pelo prazer de ver a derrocada dos Bolsonaro.
O governador da Bahia não vive os melhores dias, justamente por causa dessa operação desastrada. Tivesse o miliciano sobrevivido, a situação seria outra. Porém as polícias no Brasil existem e se formam com pré-disposição a atirar para depois perguntar. O caso de Adriano maximiza o efeito de um gatilho mal apertado, pois era uma cabeça com peso de ouro. Por isso o esforço para tentar tratar a operação como a melhor possível, ainda que o resultado contrarie os interesses de todos os envolvidos.
O mistério da morte de Adriano Magalhães da Nóbrega jamais será dado como solucionado. Em casos assim, pouco importa a verdade, já que são as versões que atendem melhor a interesses políticos e ideológicos. Citar Celso Daniel, Marielle Franco e até mesmo a facada em Jair Bolsonaro é parte de uma estratégia maior de deter certo controle narrativo sobre a desastrosa operação que mudou a rotina de Esplanada. Para quem acha bacana em assistir um presidente ser uma criança a dar bananas, isso funciona bem. E para quem está do lado oposto, o relevante é que um túmulo jamais vai abrir a boca para falar o que sabe. Agora os políticos é que vão falar demais.
por Fernando Duarte