De acordo com o Inca, câncer é o segundo mais comum entre os homens brasileiros: são 13 mil mortes por ano no país
Pedro Fernandes, 62 anos, descobriu que tinha um câncer de próstata, em estágio intermediário, em 2005. Desde então, o professor já fez 35 seções de radioterapia e não precisou operar. Atualmente, ele faz tratamento com hormonoterapia, ou seja, toma comprimidos todos os dias e, com injeções, faz controle da testosterona a cada três meses.
O professor universitário contou ao Portal da Band que, apesar da doença, não teve nenhum incômodo durante o tratamento e seguiu sua vida “sem problemas”.
Para Pedro, a cultura machista dificulta que homens façam os exames, principalmente o de toque retal. “No meu caso, aos 40 anos de idade me submeti a esse tipo de exame e não havia constatado nada. Errei em não ter realizado com a frequência - a cada ano - os exames subsequentes”, contou. Até ser surpreendido com o diagnóstico anos depois.
Casos como o de Pedro não são raros. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens brasileiros – fica atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Em valores absolutos e considerando ambos os sexos, é o quarto tipo mais comum e o segundo mais incidente entre os homens.
O Inca afirma que o Brasil terá cerca de 68 mil novos casos de câncer de próstata por ano. São 13 mil mortes por ano no país – número que poderia ser menor se a prevenção fosse maior.
A importância do exame de toque
Segundo o urologista João Afif Abdo, mesmo com o tabu envolvendo o tema e a falta de preocupação dos homens com a própria saúde, a procura pelo especialista tem melhorado, como observa ao longo dos 45 anos de experiência. “Hoje está mudando um pouco, o homem está um pouco mais esperto. Você tem muita reportagem e informação sobre isso. Não vem mesmo aqui um ou outro que é muito preconceituoso”, relatou.
Ainda de acordo com o médico, é indicado iniciar acompanhamento com o médico a partir dos 45 anos ou 40, caso o paciente tenha histórico familiar de câncer.
“A próstata é extremamente problemática para o homem porque é muito comum doenças no órgão”, disse.
O especialista explica que o órgão – responsável pela produção de parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual – pode ter três doenças: a infecção, que se chama prostatite, além dos tumores maligno, que é o câncer, e o benigno, chamado de aumento benigno da próstata. Quanto mais velho o homem for, mais chance de ser diagnosticado com alguma das doenças.
A diferença entre os dois tumores é que o benigno dá sintomas, como a vontade de urinar o tempo todo, já que, neste caso, a próstata aumenta de tamanho e pode fechar o canal urinário. Já o maligno não tem sintomas. Por isso a importância do exame de toque.
“O tumor maligno de câncer de próstata não aparece, não fecha o canal. Ele surge na parte periférica da próstata, por isso o toque é importante. De repente, eu sinto o caroço e pode ser sinal de câncer de próstata”, explicou Abdo.
Por ser um órgão interno, a próstata não pode ser examinada como o pênis ou os testículos. “Pela palpação abdominal, o médico não consegue examinar porque ela está atrás do osso do púbis. A única forma de examinar a próstata é através do toque retal. O médico sente 70% dela e consegue ter uma ideia de tamanho e consistência”, esclarece o médico.
O urologista falou que o ideal é fazer todos os exames, pois quanto mais dados ele tiver, menor a chance de errar. “Se o paciente não quer fazer o toque, eu falo ‘não é o ideal’, eu aviso que posso até errar se não fizer, mas também vou fazer o que posso, que é pedir o ultrassom, exame de sangue e conversar com o paciente”.
Além do toque, outros exames e fatores são importantes no diagnóstico do câncer: a história familiar, o exame de sangue chamado PSA e o ultrassom do abdômen ou reto.
“Se o paciente falar ‘meu pai teve câncer de próstata’, isso significa que ele tem duas vezes mais chances de ter câncer do que quem não tem ninguém na família. A história familiar é importante, existe tendência familiar tanto para o tumor benigno quanto para o tumor maligno”, disse.
Já o exame de sangue, conhecido como PSA, sigla em inglês para Antigénio Prostático Específico, serve para medir o nível da proteína, que pode acusar ou não um câncer de próstata, de acordo com as medições. “Quando aumenta, pode ser câncer, mas não quer dizer que é. Por exemplo, a prostatite aumenta o PSA, o tumor benigno aumenta PSA e o câncer também. É um dado que chama atenção do médico, que vai investigar melhor com outros exames para ver se é câncer ou não”, explicou o urologista.
Estudos mostram impacto da alimentação saudável
O oncologista Bruno Conte, do Instituto Hemomed de Oncologia e Hematologia, afirma, com base em estudos clínicos, que uma alimentação saudável pode prevenir o câncer de próstata.
“O que oriento, baseado em estudo cientifico, é que a melhor forma de prevenção é ter um estilo de vida saudável. Recomendo que nunca é tarde para mudar”, explicou à reportagem. “Indico dieta e estimulo a alimentação de grande quantidade de frutas, verduras e grão integrais. Além de diminuir o consumo de proteína animal e alimentos processados”.
O especialista conta ainda sobre o estudo realizado pelo Journal of Urology, em 2005, da Associação Americana de Urologia.
A pesquisa foi feita com 93 voluntários por um ano, sendo que 44 ficaram no grupo experimental e 49 no grupo de controle.
No grupo experimental, os homens foram submetidos a uma dieta centrada em plantas e alimentos integrais, rica em frutas, verduras, legumes e grãos integrais, e pobre em carboidratos refinados, como o açúcar. Além disso, eles também realizaram atividade física regular.
No grupo onde houve uma mudança no estilo de vida, não houve progressão nas taxas do PSA e nenhum paciente precisou de tratamento. Já no grupo de controle, seis pacientes tiveram que ir para tratamento devido progressão de doença.
Além disso, o estudo concluiu que o soro dos pacientes do grupo de intervenção teve capacidade oito vezes maior que o grupo controle de eliminar as células do câncer de próstata in vitro.
Diante disso, o oncologista sempre busca encorajar os pacientes a adotar um estilo de vida mais saudável, mas não descarta os exames de rotina.
“É mais unir informações e não tentar subsistir exames com mudança de estilo de vida. O que sinto na mídia e na comunidade médica como um todo é que o exame é hipervalorizado, como se o estilo de vida fosse de menor importância”, explicou.
Tratamentos
O oncologista Bruno Conte disse que, se comparado com o câncer de pulmão, que é considero mais agressivo, o câncer de próstata tem menos chance de evoluir para uma metástase, por exemplo. “Entretanto, o câncer de próstata é muito comum e a gente acaba vendo bastante casos com metástase. Mas a grande maioria são pacientes que não desenvolveram. Eles convivem apenas com estigma da doença”, falou.
Quais são as formas de tratar o câncer de próstata? Tudo vai depender do estágio do câncer. “Primeiro, pode estar em um estágio bem inicial, bem localizado, então o tratamento pode ser radioterapia ou a cirurgia. Aí você cura. Mas, se por acaso já ultrapassou limites e o nódulo é grande e muito duro, e o exame mostra que tem gânglios, provavelmente já espalhou, não adianta radioterapia e cirurgia, tem que castrar indivíduo”, explicou o urologista.
Na castração, podem ser retirados os dois testículos do homem ou é possível usar a injeção que bloqueia a hipófise, que manda ordem para o testículo produzir hormônio.
Abdo disse também que, normalmente, o câncer de próstata é tratado apenas bloqueando o hormônio masculino. Na maioria das vezes dá certo, segundo o especialista. “Quando se liberta disso e deixa de ter influência do hormônio, e começa a crescer independentemente de você baixar hormônio e castrar o indivíduo, aí precisa ser feita a quimioterapia com o oncologista”.
Fonte- Band