Possível greve de policiais militares é aposta arriscada para Prisco
A possível greve de policiais militares, alvo de uma batalha de versões entre o deputado estadual Soldado Prisco (PSC) e o governo baiano, é uma aposta arriscada para ambos os lados. Enquanto o parlamentar precisa de um movimento paredista para se manter “na crista da onda” e se viabilizar politicamente, a negação pela negação por parte do comandante-geral Anselmo Brandão pode pôr em risco a relação com a comunidade. Tirando pelas experiências prévias, Brandão tende a calcular melhor uma situação como a deflagrada nesta terça-feira (8).
Há, desde o mês de agosto, um burburinho sobre a hipótese de uma paralisação de policiais militares. Boa parte alimentada por Prisco e aliados, que demandam tensão constante para continuar o diálogo com a categoria. Como toda profissão, é natural que policiais tenham pleitos e pedidos específicos que, diante de uma crise econômica que se arrasta por alguns anos, não podem ser atendidos. Baseado nisso, um grupo de policiais insufla a tropa, em especial soldados e cabos, para que o movimento crie algum tipo de impacto social.
O parlamentar, inclusive, pareceu cauteloso no primeiro momento em que falou sobre a greve deflagrada momentos antes. Ao invés de inicialmente incitar a população, Prisco conversou primeiro com os companheiros de tropa: “Vocês que estão nos quartéis, fiquem nos quartéis, pois não tem segurança para você na rua”. Foi com discursos similares que ele emergiu como líder da greve de 2012 e ascendeu politicamente para a Câmara de Vereadores de Salvador e depois para a Assembleia Legislativa da Bahia. O eventual pânico generalizado criado em torno de uma paralisação de policiais é café pequeno, caso Prisco consiga manter influência sobre os pares. É um risco aparentemente calculado, mas que pode sair pela culatra.
Tanto o comando-geral da Polícia Militar quanto o governo da Bahia negam com veemência uma paralisação de policiais. A ideia, inclusive, passou por descredibilizar a principal cabeça da greve, Soldado Prisco. É uma estratégia importante, tendo como ponto de observação o militarismo presente na corporação. Em tese, insubordinação e insurgência são faltas graves cuja tolerância estaria em baixa frente ao discurso de “diálogo aberto” pregado pelo coronel Anselmo Brandão. Com o descrédito do parlamentar-grevista, a mobilização acabaria enfraquecida e o comandante-geral sairia fortalecido, sem demandar esforços maiores para encerrar um movimento que sequer começou – partindo da ótica do lado oficial da disputa.
Mesmo sob essa tensão iminente, o governador Rui Costa elevou o tom contra o adversário político em questão, o deputado-militar que ainda aguarda reincorporação na PM-BA. Foi uma declaração formal de guerra contra Prisco. Rui tratou o líder da possível greve como inconsequente e, sem usar a palavra, criminoso. “Não quero ver deputado ou líder dizendo que vai tacar fogo em ônibus escolar”, bradou o governador. É difícil ser mais explícito que isso. O resultado dessa paralisação terá dois caminhos prováveis: ou enterra Prisco politicamente ou o faz ressurgir com mais força. Ambas as opções são, no mínimo, apostas bem arriscadas para os dois lados. Já o clima de greve é arriscado para todos os baianos.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (9) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.
por Fernando Duarte