Dirigentes das gestões passada e atual do Flamengo vão à Alerj após pedido de condução coercitiva
Sandra Nunes, da Fazenda municipal, constatou que o Ninho do Urubu estava interditado pela Prefeitura no dia da tragédia: "A nossa interdição é administrativa, cabe ao empresário acolher"
Na última sexta-feira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada em novembro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para apurar recentes incêndios de grandes proporções determinou condução coercitiva para os dirigentes do Flamengo que não compareceram à sessão sobre a tragédia no Ninho do Urubu, que completou um ano no dia 8 deste mês.
Entre eles, o presidente do clube, Rodolfo Landim, que, no entanto, novamente se ausentou. Foi para Brasília, onde o time de Jorge Jesus disputa a Supercopa do Brasil contra o Athletico-PR no domingo.
Mas não haverá condução coercitiva. Foi feito um acordo entre o clube e a presidência da CPI para que o vice geral do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches, representasse o clube, evitando a medida. Na última sexta-feira, somente o diretor jurídico e um advogado apareceram, e diante do pedido de condução coercitiva para os cartolas, o CEO Reinaldo Belotti foi enviado às pressas para a Alerj.
Nesta sexta, Jaime Correa da Silva, vice de administração rubro-negro, e Marcos Braz, vice de futebol, compareceram ao lado de Belotti e Dunshee de Abranches. O nome de Braz chegou a ser citado equivocadamente na última sessão como incluído no pedido de condução coercitiva, o que depois foi corrigido pela presidência da mesa. Ainda assim, ele resolveu se juntar de forma voluntária à comitiva rubro-negra na sessão desta sexta.
O ex-vice de patrimônio do Flamengo Alexandre Wrobel, que igualmente não atendeu à convocação para a última sessão, e o ex-CEO do clube Fred Luz, ambos da gestão de Bandeira de Mello, também marcaram presença.
Fred Luz foi o primeiro a falar, sendo questionado a respeito da estrutura na qual os meninos da base rubro-negra ficavam alojados. Afirmou que os contêineres já estavam no Ninho do Urubu quando assumiu a direção executiva do clube.
- Em relação aos meninos serem hospedados, quando chegamos ao Flamengo já havia estrutura da NHJ. A informação que sempre tive da área técnica é que os módulos eram perfeitamente adequados para que os meninos ficassem.
Alexandre Wrobel e Fred Luz, ex-dirigentes do Flamengo, na Alerj — Foto: Caíque Andrade
Ele também foi questionado se o clube deixou claro à empresa que forneceu a estrutura que o objetivo era o alojamento de jovens:
- O Flamengo alugou módulos da NHJ porque a demanda era essa, com propósito de alojar meninos. Eu não conversei com a NHJ, mas julgo que sim (tenha sido aclarado à empresa de que alojariam meninos). Eu não sei quem do Flamengo colocou as camas lá.
Em seguida, o ex-CEO rubro-negro foi instado a dar nomes sobre quem lhe passou a posição de que os módulos eram adequados. Fred Luz respondeu explicando como funcionava a cadeia de comando no clube, mas sem apontar diretamente o responsável pela informação.
- Nós tínhamos uma cadeia de comando. Futebol e a área de patrimônio. O pessoal de futebol se reportava ao Carlos Noval, que se reportava ao diretor de futebol.
Na área de patrimônio, a mim se reportava o Paulo Dutra, que tinha sob sua administração quatro áreas: financeira, administrativa, patrimônio e recursos humanos. Ele saiu do Flamengo em 2017 e foi substituído por Marcio Garotti.
Reinaldo Belotti, Jaime da Silva, Rodrigo Dunshee de Abranches e Marcos Braz representaram o Flamengo na Alerj — Foto: Caíque Andrade
Alexandre Wrobel, ex-vice de patrimônio da gestão anterior, também se esquivou. Afirmou que não tinha detalhes sobre a estrutura dos alojamentos da base.
- As construções dos prédios sei de todos os detalhes. Dos contêineres não sabia de forma nenhuma. Não fazia ideia de como dormiam e quantos dormiam. Não era minha competência. O nosso trabalho era de macro. Fazer a estratégia do departamento.
Familiares das vítimas da tragédia no Ninho do Urubu — Foto: Caíque Andrade
Sandra Nunes, representante da secretaria municipal da Fazenda, constatou que o CT estava interditado pela Prefeitura no dia 8 de fevereiro de 2019. Ele foi interditado em 2017.
- A nossa interdição é administrativa, cabe ao empresário acolher - alegou Nunes.
Entre os familiares das vítimas, compareceram Darlei Pisetta, pai do Bernardo; Cristiano Esmerio, pai do Christian; Wanderlei Dias e Alba Valéria, pais de Jorge Eduardo; e Wedson Candido e Sara Matos, pai e mãe do Pablo Henrique.
Na última sessão, o pai de Pablo criticou a falta de diálogo com o Flamengo e a postura da diretoria do clube. Nesta sexta, ele repreendeu um deputado durante a sessão pedindo respeito ao ouvir o alojamento dos jovens no Ninho do Urubu ser qualificado como "jaula" pelo político.
Por Caíque Andrade e Ronald Lincoln Jr — Rio de Janeiro
14/02/2020 12h05 Atualizado há uma hora