Taxa de letalidade do Sars-Cov-2 é maior que a da gripe, mas é a menor da família coronavírus; veja comparativos
Ebola está entre as doenças que mais matam, com taxa que varia de 25% a 90%. Especialista avalia que ainda é cedo para cravar uma média para o coronavírus, já que o número de casos ainda deve crescer e atingir mais países.
O novo coronavírus apresentava uma taxa média de letalidade de 3,6% até esta quinta-feira (12). Na China, 3,9%, e, fora dela, 3,2%. A variação entre países pode ir de 0% a 6,6%, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O vírus até agora mata mais que o da gripe (Influenza), mas menos do que o de outros integrantes da família coronavírus (Sars e Mers).
Os especialistas entrevistados pelo G1 dizem que ainda é cedo para cravar um número sobre a letalidade da doença Covid-19.
Letalidade por doença
· Coronavírus Sars-Cov-2: média de 3,6% desde dezembro
· Mers: 34%
· Sars: 10%
· Gripe (Influenza, como H1N1 e outras gripes comuns): de 0,01% a 0,08%
· Sarampo: 1,42% em 2019 no mundo
· Ebola: de 25% a 90%; na República Democrática do Congo, 65% no último ano
O que sabemos sobre a letalidade do coronavírus:
A taxa de letalidade entre idosos acima de 80 anos pode passar de 15%
No caso dos jovens, a taxa é menor de 0,5%
Na Itália, o número de mortos é alto (veja gráfico abaixo). A pirâmide etária do país provavelmente influencia no número, já que é um país com muitos idosos
É maior que o da gripe e do sarampo
É menor do que o do Ebola, da Sars e da Mers
A taxa de letalidade de uma doença é influenciada pela pirâmide etária do país, qualidade do atendimento à saúde, características do vírus, quantidade de leitos e até estratégias de combate estabelecidas pelo governo. Até esta quinta-feira, 118 países tinham confirmado casos do coronavírus. Os índices podem variar bastante, de acordo com a infectologista Nancy Bellei, consultora para a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora na Unifesp.
O H1N1, última pandemia declarada pela OMS antes do coronavírus, também demorou para determinar uma taxa de mortalidade: de 0,01% a 0,08%. Bellei diz que existia essa variação, mas como é um vírus que mata menos e tinha uma medicação, o tamiflu, as diferenças não foram tão significativas entre países.
Bellei afirma que no Brasil a situação do coronavírus ainda é muito inicial. Segundo ela, é possível aprender com os erros do país no combate ao H1N1. Um dos esforços deverá ser em garantir a internação dos pacientes em risco para não ter uma sobrecarga no atendimento por pessoas que não têm necessidade.
De acordo com Leonardo Weissmann, médico infectologista, o novo coronavírus também é mais contagioso do que a Influenza, que inclui o H1N1. Ele diz que as taxas entre os vírus da gripe são parecidas, muito ligadas à vacinação da população e às mutações genéticas que ocorrem a cada ano.
"Vamos fazer um comparativo entre a pandemia de coronavírus neste ano e a pandemia de H1N1 em 2009. A gente observa que a taxa de contágio é quase o dobro do H1N1 em 2009. Uma pessoa com coronavírus pode infectar até quase 3 pessoas. Enquanto o H1N1 em 2009 era uma pessoa infecta 1,5", disse o médico.
Segundo o médico, tanto a taxa de letalidade quanto a de transmissão da Influenza é parecida. Uma coincidência entre os dois vírus respiratórios é que a disseminação começou durante o inverno e no Sudeste do país. São Paulo também deve ser o estado mais afetado pelo coronavírus, assim como foi no caso do H1N1.
Sarampo, ebola e família coronavírus
No caso do sarampo, uma estimativa da OMS aponta 10 milhões de casos e 142 mil mortes no ano passado, uma taxa de letalidade perto de 1,42% no mundo. Apesar de matar menos do que a família coronavírus, o sarampo tem uma capacidade muito maior de transmissão: enquanto uma pessoa com coronavírus Sars-Cov-2 pode infectar até 3 pessoas, de acordo com Weissmann, um paciente com sarampo pode atingir até 18. Além disso, a doença tem um público de risco oposto ao do coronavírus: atinge principalmente as crianças, enquanto o novo vírus atinge principalmente idosos.
Ao analisar a taxa de letalidade da Mers (síndrome respiratória por coronavírus do Oriente Médio), Bellei avalia que o alto número de mortes em comparação com o total está mais relacionado às características próprias do vírus, não tanto com o atendimento à saúde. O Sars, que também atingiu a China, também tem uma taxa superior à do novo coronavírus. Os três são da mesma família.
"A quantidade de casos era pequena, os pacientes tinham acesso a um atendimento de saúde de qualidade e mesmo assim tivemos uma taxa alta", disse Bellei sobre a Mers.
A letalidade da Mers na Arábia Saudita, um dos países com mais recursos de saúde do Oriente Médio, foi ainda mais alta do que a média: chegou a 37%.
Já entre os vírus que circulam em epidemias mais frequentes no mundo, o Ebola é um dos que tem a taxa mais alta: varia de 25% a 90%. De março de 2019 a março de 2020, a República Democrática do Congo perdeu, em média, 65% dos cidadãos que contraíram a doença.
Bellei informa que apesar de alguns países da África terem um sistema de saúde inefetivo, houve um esforço da OMS e a alta taxa está mais relacionada à força do vírus. O Ebola é um vírus mais mortífero.
Os assintomáticos
Uma das respostas em aberto é a quantidade de pacientes assintomáticos da pandemia do coronavírus. De acordo com Weissmann, apesar de o coronavírus ter um taxa de letalidade maior do que a gripe e o sarampo, ela ainda será revista e deve cair. Não está determinado quantos pacientes pegaram a doença sem apresentar os sintomas e, por isso, o número leva em consideração apenas quem foi registrado pelos sistemas de saúde.
De qualquer forma, os pesquisadores já encontraram evidências de que os pacientes sem sintomas também podem transmitir a doença. Entretanto, a carga viral é menor e o potencial de contágio, também.
De acordo com a OMS, a transmissão de uma pessoa assintomática é rara – o modo de contágio mais comum é por meio de pacientes que apresentam os sintomas de Covid-19. Toda pessoa que testa positivo para o Covid-19 é considerado um caso confirmado de coronavírus, de acordo com a organização.
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Por Carolina Dantas, G1
14/03/2020 05h00 Atualizado há uma hora