Médicos relatam o susto de se ver como paciente de Covid-19 em plena pandemia
Especialistas contam momentos de tensão e ansiedade quando se infectaram pelo coronavírus, situação que se repetiu em outros 361 mil contágios e 332 óbitos de profissionais da saúde no país, segundo o Ministério da Saúde
RIO — Enquanto travava uma guerra diária contra a Covid-19 na emergência de um hospital de Salvador, a médica Moema Quintana viu, em maio, a própria mãe se contaminar pelo coronavírus e desenvolver crises convulsivas, sintomas respiratórios e um quadro neurológico. O pai, os irmãos e ela também acabaram se infectando. O quadro da mãe evoluiu, levando a uma internação de 28 dias em estado grave. Uma tia não resistiu.
Com o susto na família aparentemente controlado e a mãe já em casa, em agosto a cirurgiã de 38 anos voltou a sentir alguns sinais da Covid-19. Só que mais intensos. Vieram os mesmos sintomas de colegas e pacientes: a fadiga, a falta de ar e a perda do paladar, até hoje não recuperado.
Moema, hoje de volta ao trabalho, pode ter sido uma das raras pessoas reinfectadas pelo vírus, e seu caso está sendo estudado em São Paulo.
— Na primeira vez, fiquei tranquila, porque a necessidade de manter a cabeça fria falou mais alto. Mas, na segunda, eu pensava: será que vou ser internada, como minha mãe e meus colegas? Você fica tenso e ansioso. A preocupação é viver apenas aquele dia — relata a médica, cujo marido e filha de apenas 1 ano também se contaminaram quando Moema teve sua aparente segunda infecção. — A gente acaba ficando com medo ao ver os colegas sendo internados e fica assustado com os óbitos na classe.
Assim como a cirurgiã, tantos outros profissionais da saúde pelo mundo sentiram na pele o que era passar à posição de paciente num piscar de olhos. No Brasil, já foram 361.219 casos confirmados e 332 óbitos por Covid-19 em profissionais da saúde, segundo dados do Ministério da Saúde até 10 de outubro — do total, 38.310 contágios e 65 mortes foram em médicos.