O comércio não é o grande vilão da nova alta na quantidade de casos de Covid-19 na Bahia, e, sim, o comportamento da população. A avaliação é da diretora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, Márcia São Pedro.
“O comércio hoje é o nosso grande problema? Não, pois o comércio tem respeitado as regras [de prevenção ao vírus]. O grande problema é o comportamento. Quando as pessoas saem em grupo, quando não respeitam a etiqueta de higiene, quando está aglomerando, fazendo festas que não podem ser feitas”, pontua, em entrevista ao “Isso é Bahia”, programa da rádio A TARDE FM em parceria com o Bahia Notícias.
NÃO HÁ SEGUNDA ONDA
De acordo com ela, a Bahia não está na segunda onda da pandemia porque nunca saiu da primeira. A fala contraria declarações do governador Rui Costa (PT) e do secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, que atribuíram este novo momento de alta a uma segunda onda.
“Para que haja uma segunda onda, é necessário haver queda de acima de 60% na quantidade de casos, que a gente mantenha esse número de casos reduzido em mais de 60% por mais de oito semanas e que volte a ter um novo pico, um pico superior ao valor da primeira semana epidemiológica da onda de quando a gente começou [a pandemia]”, explica.
Marcia pontua que o estado nunca viveu uma redução significativa de casos. Por isso, o novo aumento não se configura uma segunda onda. “Quando a gente olha para a Bahia, a gente nunca teve essa redução, manter esse patamar muito baixo. Tivemos um aumento crescente, em determinado momento, mantivemos um número alto, o que a gente chama de platô epidemiológico de manutenção, e agora voltamos a ter um novo crescimento”, detalha.
CAMPANHA ELEITORAL
O período de campanha eleitoral é considerado pela diretora da Vigilância Epidemiológica como principal fator para o recrudescimento da pandemia. A alta de casos coincide com as cenas de aglomerações promovidas por eventos de candidatos ao primeiro turno do pleito municipal.
“Quando a gente para observar a semana epidemiológica 44, que vai dos dias 25/10 a 31/10, e a gente compara com a semana epidemiológica 47, que vai de 15/11 a 21/11, é um período em que a gente pegou as campanhas pré-eleitorais e as eleições. Nesse período, houve aglomerações, os comícios, as festas. Isso hoje está se refletindo", destaca. Neste período, informa Márcia, houve aumento de 118% na quantidade de casos confirmados, ou seja, 8.616 pessoas testaram positivo para coronavírus.
Ela alertou que este novo momento pode ser mais grave que o primeiro e chamou atenção para a mudança no perfil de infectados. No início da pandemia, os mais afetados eram os idosos. Agora, há aumento na quantidade de jovens contaminados, aumentando o risco de que essas pessoas levem o vírus para dentro de casa.
"A gente tem uma população mais jovem, na faixa etária abaixo dos 20 anos, sendo afetada. Ao contrário dos idosos, que ficam mais em casa, esses jovens transitam por todas as áreas, vivem em grupos e, consequentemente, vão gerar mais transmissões para outras pessoas."
FESTAS DE NATAL
Márcia São Pedro voltou a pedir que as pessoas mudem o comportamento em relação ao vírus. Sobre o Natal, aconselhou se evitar festas de família para impedir aglomerações. De acordo com ela, os festejos da data representam risco de disseminação da doença.
"Não realize festas, não façam aglomerações, usem máscara, lavem as mãos, usem álcool gel. As festas de família são o grande risco. Um vai para um local, pode ter entrado em contato com alguém, não manifestar o sintoma, mas, quando vai para festa de família, entra em contato com avô, avó, tio, que são mais velhos, e aí você pode contaminar alguém."
"Dentro desse contexto da pandemia, a população é tão responsável quanto os gestores. Por mais que leitos sejam abertos, a gente precisa ter consciência que as aglomerações e as festas aumentam o número de transmissão."