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Butantan e governo conversam, mas não se entendem sobre Coronavac
Saúde
Publicado em 17/12/2020

 

Butantan e governo conversam, mas não se entendem sobre Coronavac

 

A apresentação de um plano sem datas e parâmetros definidos para a imunização nacional contra a Covid-19 pelo governo federal foi vista com desalento por autoridades paulistas.

Apesar de o plano enfatizar relativamente a Coronavac, vacina chinesa desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, como prioridade num calendário nacional ao lado do imunizante da AstraZeneca/Universidade de Oxford/Fiocruz, a opacidade do anúncio predominou nas avaliações.

O governo paulista esperava mais. Na terça (15), véspera do anúncio, um emissário do ministro Eduardo Pazuello (Saúde) esteve com Dimas Covas, diretor-presidente do Butantan, e Antonio Imbassahy, representante de São Paulo em Brasília.

Na conversa com o assessor Airton Cascavel, a pasta se disse comprometida a comprar a Coronavac e a incluí-la no plano nacional. Até aí, tudo bem, mas ficou em aberto a questão das datas.

Ela não foi abordada na entrevista coletiva de Pazuello em Brasília, e não houve novos contatos.

A impressão no Palácio dos Bandeirantes foi a de que o governo federal está enrolando, dado que não se preparou para a realidade, cortesia do negacionismo oficial do governo Jair Bolsonaro.

Em entrevistas, membros do governo estadual disseram que preferem a Coronavac incluída num plano nacional --o que tornaria a iniciativa estadual anunciada na segunda retrasada (7) pelo governador João Doria (PSDB) parte dele.

Com Pazuello reduzindo a estimativa para aprovação de um registro definitivo de qualquer vacina de 60 dias para cerca de 45, há quase uma convergência agora nas datas presumidas para o começo da vacinação --25 de janeiro para Doria, fevereiro para o ministro.

Claro, primeiramente a Coronavac e outras precisam ter seu pedido de registro entregue à Anvisa. Conforme o jornal Folha de S.Paulo publicou na segunda (14), Doria mudou de tática.

Foi adiada desta terça para a próxima quarta (23) a entrega prevista dos resultados de eficácia da Coronavac e o pedido de registro à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e sua homóloga chinesa.

Isso se deu porque o número de infectados entre os voluntários do ensaio da chamada fase 3 ultrapassou os 151 necessários para fazer um relatório definitivo --pulando assim a dita etapa interina.


Doria espera o registro definitivo chinês em três dias, o que abrirá então o prazo legal do mesmo tempo para a Anvisa analisar a Coronavac. Se não a aprovar sem apresentar razões técnicas convincentes, teria de registrá-la baseada na avaliação externa, como determinou lei da pandemia em fevereiro.

Na área técnica do governo estadual, a expectativa é de resistência da Anvisa, o que acabará levando à inevitável judicialização do caso.

Ministros do Supremo ouvidos pela reportagem creem que Luiz Fux, presidente da corte que estará no plantão do recesso judiciário, será bastante sensível a argumentos pró-vacinação imediata.

Desta forma, a existência do plano estadual acabou se tornando um instrumento de pressão que obrigou o Planalto a se mexer.

Assessores de Bolsonaro já o alertaram na semana passada acerca do dano político que sua rejeição à Coronavac, vacina que ele vê como passaporte eleitoral do rival Doria para 2022, poderia gerar.

Isso levou o presidente a entrar no modus operandi tradicional. Falou mal da vacinação na terça e, nesta quarta, participou com um tom mais comedido do lançamento do plano sem detalhes de Pazuello.

por Igor Gielow | Folhapress

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